Dinheiro Vivo: “Portugal Tem Algumas Vantagens Que Irão Fazer O 5G Um Sucesso No País”

Augusto Baena, especialista para a área de telecomunicações da Oliver Wyman para Península Ibérica, descreve os desafios para o 5G previsto para 2020

2020. É esta a data prevista para o arranque do 5G na Europa, região que quer posicionar-se na dianteira desta nova revolução tecnológica.

Augusto Baena, sócio e responsável pelo setor das Comunicações, Media e Tecnologia da Oliver Wyman na Península Ibérica, faz o retrato dos desafios que o sector enfrenta para cumprir com esse objetivo. O autor do estudo Beyond The Hype – 5G: Operators Need to Plan for an Evolutionary Revolution dá nota positiva à preparação do mercado nacional para este salto tecnológico. “Portugal tem algumas vantagens que irão fazer o 5G um sucesso no país e pode ser um dos primeiros vencedores”.

O 5G está a chegar com muitas promessas, mas um grau elevado de incertezas. Quais são os principais obstáculos que os operadores de telecomunicações terão de ultrapassar para chegar à meta de lançar o serviço em 2020?

Augusto Baena (AB): Há dois tipos de incertezas. Um está relacionado com a disponibilidade tecnológica e o desempenho. Quando é que rede e terminais (como os smartphones) estarão prontos com uma funcionalidade aceitável e a um preço suficientemente acessível? Qual será o desempenho do 5G em situações da vida real? Será que as ligações de alta frequência irão funcionar bem através de paredes e para as denominadas ‘ligações sem linha de visão’? O outro tipo de incertezas está relacionado com o modelo económico. Quais serão os casos chave que irão impulsionar as receitas que justificam o enorme investimento? Como é que o modelo de negócio vai funcionar para esses casos? Como podemos assegurar que fechamos o ciclo investimento-receita para que os operadores que estão a investir sejam aqueles que irão recuperar esses investimentos?

No estudo refere “uma falha comum nos esforços de marketing do 5G”. Porque considera que focar nos casos de indústria é um erro e, em vez disso, os operadores deveriam estar a focar-se nos serviços ao consumidor?

AB: É natural que as mensagens iniciais em torno de uma nova tecnologia seja em torno do que podem trazer de novo para o mercado, em vez de apenas a evolução face às atuais tecnologias. Além disso, é também natural que as comunicações públicas se foquem nos casos mais espetaculares, extremos e excecionais, o queno caso do 5G tem sido a possibilidade de realizar cirurgias à distância. Contudo, os casos iniciais de 5G serão uma evolução do 4G e terão de ser compatíveis (com tecnologias anteriores). Nem todos os elementos da rede serão atualizados num primeiro momento, e a penetração de aparelhos levará uns anos a expandir. Quando nos aproximarmos do lançamento comercial, todos os players no mercado (vendedores e operadores) irão ajustar as suas expectativas e estratégias de comunicação. Acreditamos que as capacidades mais latas e fundamentais do 5G – como tempo de resposta mais curto (latência), redes privadas e seguras para aplicações da indústria, taxas de transferência muito mais elevada, etc – irão impulsionar a criação de novas aplicações e possibilitar mais inovação no mercado nos meses que se avizinham, com novos serviços que ainda nem ouvimos falar.

O 5G vai exigir espectro. Caso se avance com o modelo do leilões, isso vai exigir um investimento adicional dos operadores numa altura em que ainda estão a rentabilizar o investimento no 4G. Dado o objetivo europeu de colocar a região na liderança desta revolução, os governos deveriam ter uma abordagem diferente?

AB: O espectro é um bem público limitado, e prepará-lo para ficar disponível para os operadores móveis tem custos, por isso é legítimo que os governos os queiram recuperar. Contudo, acreditamos que preços excessivamente altos, mesmo aqueles motivados por mecanismos de leilão que têm sido cuidadosamente desenhados para maximizar as receitas, são prejudiciais para o investimento – já que o investimento máximo que pode ser feito pela indústria é finito – e pode ter um efeito negativo líquido na economia, adiando a adoção de novas tecnologias que aumentam a produtividade e beneficiam toda a sociedade. Isto é ainda mais crítico na Europa, onde muitos operadores de telecomunicações estão a sofrer com uma dívida elevada e um fraco desempenho no mercado de capitais e, por isso, com potenciais desafios para financiar estes investimentos. Reguladores e governos podem ter uma grande influência em como os mercados de telecomunicações se desenvolvem, como temos vistos na rede fibra, onde há diferenças significativas em toda a Europa que não são facilmente explicáveis pelo poder económico ou por fatores sociodemográficos.

Os operadores deveriam formar consórcios para construir a rede e sobre essa rede comum vender os seus produtos ou serviços, ou, tendo em conta a concorrência no sector, esse é um cenário pouco provável?

AB: É um tema aberto e interessante. Há o risco de redes concorrentes não serem rentáveis para operadores mais pequenos ou em áreas mais pobres ou menos densas (em termos de população) num país, levando a um efeito contrário de menor concorrência e até aumento da clivagem digital. Contudo, os monopólios têm os seus próprios problemas no impulsionar da inovação e eficiência. Está ainda por definir qual o modelo que irá permitir manter a concorrência e a inovação elevadas, cobrindo todas as regiões, e que seja economicamente viável. Acreditamos que vai haver uma partilha crescente de infraestrutura e mais colaboração entre operadores para cobrir zonas menos rentáveis. Se isso significa uma única rede monopolista, é provavelmente desnecessário na maior parte da Europa. Na nossa opinião, os reguladores deveriam dar alguma margem de manobra aos operadores para encontrarem as soluções, vigiando a forma como os mercados se desenvolvem com um nível de concorrência saudável.

A meta para o arranque do 5G é 2020. A Europa e, em particular, Portugal, estão prontos para cumprir com esse objetivo?

AB: Portugal tem algumas vantagens que irão fazer o 5G um sucesso no país e pode ser um dos primeiros vencedores. Uma economia a recuperar com muitas áreas potenciais para crescimento que irão beneficiar do 5G, condições sociodemográficas favoráveis (especialmente na zona litoral), acesso a rede de fibra que será necessária para ligar as torres, e um conjunto de operadores de telecomunicações com os conhecimentos certos para levar a cabo com sucesso este projeto.

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